Beneficentes ou beneficientes?

Há erros que se cristalizam no dia a dia da comunicação oral. Isso se evidencia em coletividades que utilizam idiomas complexos como o nosso. É comum a indicação da ocorrência de festas “beneficientes” em vez de beneficentes. Algumas expressões também nos chamam a atenção: “no que pertine” e “a grosso modo”. Quanto à primeira, encontram-se dicionarizados os termos ‘pertinente’ e ‘pertinência’. Logo, o verbo “pertine” não foi previsto. Quanto à segunda, trata-se de uma expressão latina que repele a preposição –a . Portanto, deve-se grafar tão-só grosso modo (entre aspas ou em itálico por ser latim).

 Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso “escorregou” no português formal ao criticar, indiretamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva[*] ao dizer que quer “brasileiros melhor educados e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria”. Pela norma culta, o correto seria “mais bem educados”. Rigorosamente, deve-se usar ‘mais bem’ antes de particípio. Porém, essa construção [‘melhor educado’] é considerada aceitável, ela está no limite entre a norma padrão e o desvio dela.

 Mas se alguns deslizes estão no limite aceitável, outros não. Cada vez mais, as empresas selecionam o candidato pela competência técnica e pela capacidade de se expressar bem. Logo, quem investiu pouco em uma ferramenta básica como a própria língua tem a chance de contratação reduzida, pois erros de português na comunicação verbal ou escrita depõem contra o motivo primeiro de qualquer investida de comunicação: fazer-se entender.

 Ler muito sobre diversos assuntos para ampliar a visão de mundo e o vocabulário e buscar a capacitação em cursos de redação ou de português são importantes para conquistar ou assegurar uma vaga, já que as empresas valorizam, cada vez mais, a competência de se expressar bem. Logo, não podemos nos esquecer que a comunicação – especialmente a escrita – deve obedecer à norma culta.