Shirley Maria – Língua Portuguesa

A ARTE DE EMPREGAR VÍRGULAS

 

O uso correto dos sinais de pontuação é fundamental na hora de redigir qualquer tipo de texto.

 Devemos saber que o bom emprego das vírgulas nos permite, entre outras coisas, criar uma adequada entonação de qualquer frase, assim como conseguir clareza na mensagem que queremos transmitir.

 Ela indica uma pausa breve que se produz dentro do enunciado. E há muitos casos em que a vírgula é obrigatória na escrita.

 O mau uso da vírgula – como, por exemplo, o excesso ou a falta – pode transformar totalmente o sentido de uma frase. Assim como seu uso adequado pode indicar sentidos diferentes. Vejamos um exemplo.

 A inclusão de vírgulas na opção “b” alterou o sentido da oração?

a) As crianças que estavam descalças assentaram-se no meio da sala.

b) As crianças, que estavam descalças, assentaram-se no meio da sala.

Se você respondeu que sim, acertou. Há alteração de sentido, pois, no primeiro caso, a conjunção “que” indica algumas crianças (grupo heterogêneo), logo, oração restritiva. Já no segundo, a conjunção entre vírgulas indica que todas elas assentaram-se. Logo, temos oração adjetiva que modifica o substantivo crianças.

 Vírgulas obrigatórias (cf. CEGALLA, 2012)

Emprega-se a vírgula

a) para separar palavras ou orações justapostas assindéticas (sem conjunção entre os termos):

A terra, o mar, o céu, tudo apregoa a glória de Deus.

Os passantes chegam, olham, perguntam e prosseguem.

b) para separar vocativo (chamamento):

Ana, venha aqui.

c) para separar apostos (limita, restringe, especifica o nome ao qual se refere) e certos predicativos:

São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, destaca-se entre os grandes educadores da juventude.

Lentos e tristes, os retirantes iam passando.

   Predicativo

d) para separar orações intercaladas e outras de caráter explicativo:

A História, diz Cícero, é a mestra da vida. (Temos duas orações neste exemplo e uma está intercalada: “diz Cícero”.)

e) para separar certas expressões explicativas ou retificativas, como isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, entre outras:

O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu princípio em Deus.  (isto é = expressão explicativa)

Amanhã, ou melhor, depois de amanhã, vamos viajar. (ou melhor = expressão retificativa)

f) para separar orações adjetivas explicativas*:

Pelas 11h do dia, que foi de sol ardente, alcançamos a margem do rio Paraná.

* explicam ou esclarecem o termo antecedente, mas não confunda com o aposto; elas apresentam uma característica própria ou acrescentam uma nova informação: “Deus, que é nosso pai, nos salvará.”

g) para separar orações adverbiais reduzidas:

Fui à cidade para consultar o médico. (“para consultar o médico”: subordinada adverbial final, reduzida de infinitivo)

h) para separar adjuntos adverbiais:

Anteontem, foi para a Austrália.

Atenção: apesar de não termos ideia do que significa um adjunto adverbial “breve”, alguns gramáticos, inclusive, o próprio Cegalla dispensam a vírgula nesse caso.

i) para indicar a elipse de um termo:

Uns diziam que se matou, outros, que fora para o Acre. (= outros diziam que fora para o Acre.)

j) para separar certas conjunções pospositivas (que não se usam no início das orações), como porém, contudo, pois, entretanto, portanto, entre outras.

Estou atrasada, entretanto, vou atendê-lo rapidamente.

k) para separar os elementos paralelos de um provérbio:

Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.

l) para separar termos que desejamos realçar:

O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas do paletó.

m) para separar, nas datas, o nome do lugar:

Belo Horizonte, 4 de novembro de 2012.