Shirley Maria – Língua Portuguesa

“Cimos” e “Margens da alegria”, de Guimarães Rosa

A temporalidade nos contos  “As margens da alegria” e

“Os cimos”, de Guimarães Rosa[1]

 Resumo

 O presente trabalho pretende analisar a questão da temporalidade nos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, do livro Primeiras estórias[1] , de João Guimarães Rosa, observando questões relacionadas à narrativa. Há que enfatizar que este estudo não visa à identificação de todos os “tipos” de tempo, mas procura verificar em que medida ele – o tempo – se apresenta como uma categoria importante do processo narrativo. 

Palavras-chave: Tempo, transição, memória, aprendizado, mythós, logos                                     

Mas que um som já ouvido, um olor outrora aspirado, o sejam de novo, tanto no presente como no passado, reais sem serem atuais, ideais sem serem abstratos, logo se libera a essência permanente das coisas, ordinariamente escondida, e nosso verdadeiro eu, que parecia morto, por vezes havia muito, desperta, anima-se ao receber o celeste alimento que lhe trazem. Um minuto livre da ordem do tempo recriou em nós, para o podermos sentir, o homem livre da ordem do tempo.

Marcel Proust

              O presente trabalho pretende analisar a questão da temporalidade nos contos “As margens da alegria” e “Os cimos”, que fazem parte do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, observando questões relacionadas à narrativa. É importante dizer que este estudo não visa à identificação de todos os “tipos” de tempo, mas quer demonstrar como ele (o tempo) se apresenta como uma categoria importante do processo narrativo. E para isso, será necessário trabalharmos com alguns conceitos dessa categoria.

              Empreendendo uma leitura comparativa entre os dois contos, uma vez que se                                   aproximam tanto na temática quanto na estrutura narrativa, intenta-se mostrar como o(s) protagonista(s) transita(m), com o fluir do tempo, do seu universo infantil para o universo adulto, aprendendo que o sentimento de alegria, por exemplo, em um breve instante, pode ceder lugar a tristeza e vice-versa.

             Vejamos, primeiramente, o conto “As margens da alegria”. O narrador inicia a narrativa com uma sequência dos acontecimentos em sua ordem imediata: “Saíam ainda com o escuro…” ; “O vôo ia ser pouco mais de duas horas.” (p. 03) Aqui, podemos dizer que ele utiliza o tempo linear para fazê-la. A seguir, passa a utilizar um tempo feito de expectativas no qual podemos perceber um aspecto “factual”, onde se considera um fato da “realidade” social, infantil e familiar, ainda que com implicações psicológicas: “E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as satisfações antes da consciência das necessidades.” (p. 03) Presente e futuro se mesclam e nos perguntamos: Como medir o tempo nesse enunciado?! É possível medi-lo?!

                 Mesmo que as respostas ainda não sejam dadas, podemos perceber que, com o fragmento -“O menino, agora[1], vivia; sua alegria despedindo todos os raios.” (p. 04) se estabelece um eixo perpendicular na narrativa para realçar que ali se encontra  “a existência de uma espécie de grau zero, que seria um estado de perfeita coincidência temporal entre discurso e história”[2], o marco divisor do que será colocado a seguir como “pontos de vista para trás e para a frente a partir do presente”[3], ou seja, a partir deste marco que simboliza o presente narrativo.

              Nesse conto, também podemos verificar a relatividade da duração temporal, onde um segundo pode significar muito mais do que o seu tempo real: “O Menino tinha tudo de uma vez, e nada, ante a mente.” (p. 04) A intensidade do momento é que vai definir essa durabilidade. É o tempo humano revelando-se como um tempo variável.

        Até aqui, temos a mistura de tipos de tempos (tempo linear, tempo de expectativas…), mas que não interrompem o fluxo da narrativa (saída à noite, vôo de aproximadamente duas horas, chegada), o que nos remete a Santo Agostinho quando nos diz que só existe um tipo de tempo, o presente, e que ele se desfaz em presente-passado (saída à noite), presente-presente (o vôo) e presente-futuro (chegada e o que dali por diante aconteceria). Podemos falar mais uma vez em presente da narrativa, já que o narrador nos informa que um menino e seus tios iam “passar dias no lugar onde se construía a grande cidade”. (p. 03)

            Além dos tempos já mencionados, teremos a inserção do que poderíamos chamar de tempo da calmaria, em que tudo parece estar parado: “Enquanto mal vacilava a manhã. A grande cidade apenas começava a fazer-se, num semi-êrmo, no chapadão: a mágica monotonia, os diluídos ares.” (p. 04) Mas esse momento de calmaria será interrompido com o aparecimento da ave, o que acaba causando uma espécie de ruptura, sem interferir, entretanto, na sequenciação da narrativa (chegada, averiguação do espaço – o menino vê a ave -, saída para um passeio de jeep). A personagem adentra, agora, o mundo interior: “[…] o peru para sempre.” (p. 04) Ainda podemos perceber uma remissão bem nítida ao tempo histórico, datado, no qual essa “grande cidade” parece referir-se à construção da cidade de Brasília.

          Vamos dar um pequeno salto: a ave será sacrificada e a criança irá se decepcionar: “Tudo[1] perdia a eternidade e a certeza; num lufo, num átimo, da gente as mais belas coisas se roubavam (…) Por que tão de repente? Soubesse que ia acontecer assim, ao menos teria olhado mais o peru – aquêle.” (p. 06) A personagem condensa em uma única palavra (“Tudo”) a dimensão da sua (in)certeza; é como se ele nos dissesse que seu pequeno mundo desabava naquele instante, o que o remetia ao duro aprendizado da fugacidade das coisas e da inconstância do tempo. A grande lição, digamos assim, é a importância do olhar: olhar detalhadamente, demoradamente, mesmo que isso implique um paradoxo: olhar um instante a mais, a fim de transitar, posteriormente, do campo visual ao campo da memória, mas sem deixar de perceber a dura realidade de que os momentos escapam entre os dedos, na inútil tentativa de reter o tempo entre as mãos: “(…) num átimo, da gente as mais belas coisas se roubavam (…)”. Nesse excerto, a criança deixa entrever que também aprendeu sobre a transitoriedade dos sentimentos – o que simboliza o aprendizado da perda em uma construção que se vale da alternância entre tempo psicológico e linear, tempo da dúvida e da decepção para promover esse processo. Ainda podemos dizer que a personagem dobra o tempo sobre si mesma ao pensar o que poderia ter feito no presente-passado, revelando a circularidade da vida onde passado e presente não estão tão distantes assim: “(…) Por que tão de repente? Soubesse que ia acontecer assim, ao menos teria olhado mais o peru – aquêle.”

             É importante ressaltar que se podem perceber dois níveis na narrativa: o do factual (caso narrado) e o do psicológico ou das reflexões, que se mesclam no desenvolver dos fatos: “E em sua memória ficavam, no perfeito puro, castelos já armados. Tudo, para o seu tempo ser dadamente descoberto, fizera-se primeiro estranho e desconhecido.” (p. 05) Temos, também, o cruzamento do mythós ao logos ou vice-versa: “Pensava no peru, quando voltavam. Só um pouco, para não gastar fora de hora o quente daquela lembrança, do mais importante, que estava guardado para êle, no terreirinho das árvores bravas. Só pudera tê-lo um instante, ligeiro, grande, demoroso.” (p. 05)

                 No final da narrativa, temos a personagem tentando entender o que se passa. E aqui, ficamos sabendo que ela se limita ao espaço de um dia (manhã-tarde-noite). Tal linearidade, mesclada a outros tempos, revela a fugacidade do próprio tempo: não somos capazes de detectar um momento preciso, já que “um instante” pode ultrapassar o espaço narrativo. Sem contar que temos, também, mais uma circunstância em que o tempo é oferecido em termos interpretativos, e sua difícil identificação se dá devido à difícil identificação do “eu” e dos seus sentimentos. Mas podemos dizer que esse intervalo é o suficiente para uma criança adquirir experiência de vida e ingressar no mundo adulto, onde sentimentos como alegria e tristeza se alternam numa fração de segundos, podendo durar muito ou pouco, dependendo de outra interrupção temporal.

                  Passamos, agora, a analisar o conto “Os cimos”, que se inicia com o uso do tempo casual: “Outra era a vez”. O narrador mescla o passado e o presente para dar ênfase ao aspecto psicológico da personagem: “E o Menino estava muito dentro dêle mesmo, em algum cantinho de si. Estava muito para trás.” (p. 169) Para a personagem[1] fica difícil identificar o tempo que está vivendo: “Tudo era, todo-o-tempo, mais ou menos igual, as coisas ou outras.” (p. 169) Mas ela tinha a certeza de que o tempo fluía: “A vida não parava nunca, para a gente poder viver direito, concertado?” (p. 169)

            Apesar do fluir do tempo, o narrador parece querer imobilizá-lo para que a personagem perceba o espaço físico como inalterado ou, talvez, para tornar o espaço compatível com o estado psicológico da personagem (“Estava muito para trás …”), congelado num outro tempo, anterior, sem data (“Até o macaquinho sem chapéu iria conhecer do mesmo jeito o tamanho daquelas árvores, da mata, pegadas ao terreiro da casa.” (p. 169); “Na casa, que não mudara[1], entre e adiante das árvores (…)” (p. 168).

                  Com esse último fragmento, temos a referência temporal ao conto já analisado – o primeiro conto da obra, “As margens da alegria”. E ele também nos reenvia a um tempo mítico (um tempo d’antanho, de antes). Podemos também dizer que a personagem necessitava recordar o passado, rememorar aquele espaço para ter a certeza de que ainda era o mesmo. Para se situar novamente, irá elaborar uma síntese do cenário onde se passa o conto; é como se apresentasse ao leitor o local visto pela última vez – o tempo d’As margens da alegria.

              Parece que a personagem sente necessidade de ficar presa a um passado, presa a imagens que, por certo, não são iguais atualmente. A mesma sensação que sente no avião é experimentada em terra firme: “O avião não cessava de atravessar a claridade enorme, êle voava o vôo – que parecia estar parado.” (p. 168) Assim, o narrador deixa entrever a necessidade de fazer com que o espaço físico, e tudo o que nele se encontra, nos dê a impressão de estar parado num tempo anterior. Trata-se realmente de uma impressão, pois o tempo se caracteriza pela “diversidade e pela heterogeneidade.”[1]

            Na leitura desse conto, percebemos que ele, em relação ao primeiro (“As margens da alegria”), funciona de forma invertida, produzindo afastamento e aproximação, imagem para frente (agora, é uma criança triste que viaja) e uma imagem para trás (“O Menino agora, vivia; sua alegria despedindo todos os raios.” (p. 04)), o que nos remete ao título da primeira parte do conto “O inverso afastamento” e a primeira frase já referida: “Outra era a vez”.

                 A criança desse conto, assim como a outra, também passa pelo aprendizado da perda: “Enquanto a gente brincava, descuidoso, as coisas ruins já estavam armando a assanhação de acontecer: elas esperavam a gente atrás das portas.” (p. 170) Aqui, outro espelhamento com o primeiro conto se dá no surgimento de outra ave, agora um tucano.

              Temos o desenrolar da narrativa em períodos diários – tempo cronológico -, o que reafirma a consciência da personagem de que o tempo, segundo seu lado interior, pode até parecer parado, mas para o seu lado exterior, esse tempo sempre avança: “Ainda que a gente quisesse, nada podia parar, nem voltar para trás, para o que a gente já sabia, e de que gostava.” (p. 170) – o que demonstra um duplo movimento do tempo e o inexorável o que, em termos de trabalho com o tempo em Rosa, parece bastante produtor de sentido: “Ou porque, mesmo enquanto (as coisas) estavam acontecendo, a gente sabia que elas já estavam caminhando, para se acabar, roídas pelas horas, desmanchadas …”. (p. 171)

                   É interessante observar a marca do tempo de permanência do tucano: “só os dez minutos”. Segundo Heidegger, o relógio não indica a duração, a quantidade de tempo que flui, mas o ‘agora’ tal como é fixado de cada vez em relação à ação presente, passada ou futura.[2] Dessa forma, não é importante o tempo de duração daquela visão e sim a atualização/enfoque/informação de que se trata do momento presente, do momento imediato.

                 Podemos dizer que quando o menino vê pela primeira vez o tucano, ocorre para ele um momento mágico que faz com que ele, de certa forma, fique completamente destituído de passado e futuro: “O Menino se lembrava sem lembrança nenhuma.” (p. 171) A espera passa a ser o seu relógio em função de um aparecimento que regula a distância entre a tristeza (pelo fato da mãe estar doente) e felicidade (expectativa que afugenta essa tristeza) proporcionada pela visão do pássaro. O tucano é como uma chave interruptora, acionada pelo olhar, pela vontade, pela curiosidade e pela inocência infantil ante o novo que proporciona, por poucos instantes, um sentimento de extravasamento, de desligamento temporário de sensações ruins.

                   Percebemos que o tempo psicológico convive, nesse conto, lado a lado com o tempo cronológico: “Ainda que relutasse, não podia pensar para trás.” (p. 172) A retrospecção provoca confusão mental, torna tudo um “borrão”. Temos a fragilidade que se estabelece entre as barreiras temporais: a ausência da mãe provoca-lhe desorientação e vivenciar o presente (apreciar o belo pássaro) causa remorso, mas também, a percepção de que tudo passa. E essa oscilação entre uma barreira e outra parece fazer com que ele viva em um tempo só seu; é como se os outros vivessem em outro tempo – a parte do seu: “Depois do encanto, a gente entrava no vulgar inteiro do dia. O dos outros, não da gente. As sacudidelas do jeep formavam o acontecer mais seguido.” (p. 173)

                 Nesse episódio, sabemos que, após a visita do pássaro, na maioria das vezes, o Menino saía com o tio de jeep. Essas “sacudidelas” e os telegramas parecem arrancá-lo do seu próprio tempo e inseri-lo no tempo real e ao mesmo tempo linear, digamos assim. Mas, nesses momentos, apenas uma parte dele é despertada: “O Menino, em cada instante, era como se fôsse só uma certa parte dêle mesmo, empurrado para adiante, sem querer.” (p. 173) Assim, o ‘tucano’ serve para organizar a “nebulosa”, e, logo, o dia e o espaço que o separam da mãe. A criança está dividida temporalmente (“Entretempo”); é intervalar. Ela se vale do tempo da memória para fugir do tempo real que a faz lembrar-se da mãe: “O Menino o guardava, no fugidir, de memória, em feliz vôo, no ar sonoro, até a tarde. O de que podia se servir para consolar-se com, e descobrir-se, por escapar do aperto de rigor – daqueles dias quadriculados.” (p. 174) Isto implica o fato de que o “caos” organiza-se através do mito. Mesmo quando vai retornar à casa materna, não deixa de transitar entre as fronteiras temporais: “E, com pouco, o Menino espiava, da janelinha, as nuvens de branco esgarçamento, o veloz nada. Entretanto, se atrasava numa saudade, fiel às coisas de lá.” (p. 175) É interessante observar que o avião se adianta, mas o menino se atrasa em sua saudade – saudade do que ficou para trás. Uma variedade de tempos condensados em um só: o presente, o que nos reporta mais uma vez à análise do primeiro conto: um instante pode ultrapassar o espaço da narrativa para revelar a importância do olhar, a fugacidade do tempo, o (des)dobramento do tempo e a questão do aprendizado.

            Cumpre observar que o tucano e o bonequinho também se constituem como marcas temporais. A chegada do tucano implica tempo de esquecer as coisas ruins e vislumbrar, sem pensar em nada, apenas aquele espetáculo que dura dez minutos ou, ainda, pode ser visto como tempo de culpa: a criança não se sente autorizada a sentir-se alegre e, por isso, tenta reprimir seus desejos, a fim de compactuar com a situação atual de sua mãe. A nosso ver, o tucano e o chapéu vêm organizar o que é bom no meio do que é ruim. Quando o Menino, por exemplo, joga fora o chapéu, é como se partisse o tempo em dois momentos: mãe com saúde e mãe enferma. Aqui, o gesto anuncia um tempo em que as coisas são ruins para o menino: tempo no qual sente a falta da proteção materna. Ao perder o bonequinho e ao perceber-se distante do “espetáculo”, é como se não conseguisse se articular entre esses períodos; é como se estivesse perdido no tempo. Mas quando lhe dão o “chapeuzinho vermelho” que pertencia ao seu “companheiro”, passa para um dos lados da fronteira: o agora (mãe com saúde). Metonimicamente, significa que voltou ao tempo da inocência, ao tempo infantil, aos bons tempos; agora, ele podia contar com a proteção materna: “O Menino sorriu do que sorriu, conforme de repente se sentia: para fora do caos pré-inicial, feito o desenglobar-se de uma nebulosa.” (p. 175)

                Mas esse estar de um lado da fronteira dura muito pouco. “Durou um nem-nada, como a palha se desfaz, e, no comum, na gente não cabe: paisagem, e tudo, fora das molduras.” (p. 175) Esse Menino não cabe em uma moldura que fixa determinado tempo; ele se articula em outras molduras, ou seja, em outras sequências que denotam outros tempos e, até mesmo, a sobreposição deles: “(…) e no jeep aos bons solavancos … e em toda-a-parte … no mesmo instante só … o primeiro ponto do dia … donde assistiam, em tempo-sôbre-tempo, ao sol no renascer e ao vôo, ainda muito mais vivo, entoante e existente-parado que não se acabava – do tucano (…).” (p. 176) Um tempo sobreposto ao outro, para mostrar que ele (o tempo) não para, e para nos informar de que, nesse processo, a criança, a partir de suas experiências e do seu dia-a-dia, vai adquirindo conhecimento, vai se desenvolvendo, como se pode perceber no decorrer da narrativa.

               O importante, nos contos, não é analisar apenas as categorias de tempo ali presentes, mas observar também de que modo os elementos que aparecem nas narrativas (peru, tucano, bonequinho, paisagem, reticências, dentre outros) podem marcar a mudança de um tempo para o outro ou a alternância entre eles. Esses elementos chegam a ser mais eficazes que as formas verbais presentificadas e se constituem como um meio para explicitar o(s) outro(s).

                “Em as margens da alegria” e em “Os cimos”, o tempo pode ser analisado a partir da vivência das personagens, dos seus sentimentos, dos elementos da narrativa e como elemento de sutura entre ambos. Sutura que revela a importância do olhar, do olhar pela primeira vez; um olhar que (des)articula fronteiras temporais, revelando personagens intervalares (“Entretempo”) que, através do aprendizado da perda, da brusca separação e da ruptura do olhar, também tornam-se outros (transitam do mundo infantil para o mundo adulto) em um processo que deixa entrever a fragilidade do ser e a flexibilidade do tempo em nós:

–          “Chegamos, afinal!” – o Tio falou.
–          “Ah, não. Ainda não …” – respondeu o Menino.
Sorria fechado: sorrisos e enigmas, seus. (“O Menino agora, vivia;” (p.  4)) E vinha a vida. (p. 176)

 Notas

[1] Texto publicado pelo CESPUC / PUC Minas – In: Veredas de Rosa II.
2 Rosa, 1972.
3 Grifo nosso.
4 NUNES, 1995.
5 BENVENISTE, 1974, p. 70.
6 Grifo nosso.
7 Aqui, podemos apontar mais um aspecto que nos chama a atenção nessa obra de Rosa: a voz da personagem na voz do narrador mesclada a dele mesmo.
8 Grifo nosso.
9 DASTUR, 1990, p. 27.
10 DASTUR, 1990, p. 30-31.

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ABSTRACT

 The current work intends to analyze the temporariness featured in the tales “As margens da alegria” and “Os cimos”, which are part of the book “Primeiras estórias”, by Guimarães Rosa, observing questions related to the Narrative. It’s important to say that such work doesn’t aim at identifying all kinds of time but rather show how it (time itself ) is seen as a narrative category. Thus, it will be necessary to establish concepts of some of them.